Este é um espaço de presença e de acção. O backstage da minha produção de escrita, da minha fala pública e dos vários tipos de intervenção que possa ter, por exemplo ao nível da programação e da curadoria.
Irei aqui vazando ocasionalmente impressões, pensamentos, análises de discos, concertos, livros, espectáculos, apontamentos de um devir quotidiano feito de fruições e desejos, acontecimentos e eventualidades. Tudo aquilo que não fique registado ou assinalado em outros sítios – ou mesmo que fique, porque há sempre outras perspectivas possíveis das coisas, mais personalizadas e subjectivas, que são tão importantes quanto os formalismos de um ensaio ou de uma peça jornalística – ficará guardado neste blogue.

Manifesto Anti-Hoppenot

Em 2005 fui bater à porta da minha editora de então, a Hugin, para entregar um novo livro, “Senso-Sentido”, este em parceria com Carlos “Zíngaro”. Ninguém abriu: a Hugin tinha fechado e os seus responsáveis nada me disseram. Tentei outras editoras, mas obtive de todas a mesma resposta: não. O livro era quadrado, ficava caro por causa do corte de papel, e acabou na gaveta. Ou melhor, num CD-R guardado numa caixa em casa do meu irmão Carlos, que se encarregara da paginação. Pois acontece que ele encontrou agora esse backup. Fica aqui disponibilizado em PDF um capítulo de tal empreitada. E virá depois um outro, se gostarem.

Carlos “Zíngaro”: imagem
Rui Eduardo Paes: texto
Carlos Paes: design e paginação

Novo livro em breve

VAXZEVRIA CANTUS

a música nos anos de pandemia

Vaxzevria Cantus é sobre a música que sobreviveu à pandemia e aos confinamentos, a música que foi criada e apresentada em circunstâncias quase apocalípticas, muitas vezes exercendo a desobediência e cultivando o confronto. Como em obras anteriores de Rui Eduardo Paes, trata-se de um complexo emaranhado semiótico. Especulação, análise crítica e informação convivem fragmentariamente, no primeiro capítulo, com poesia erótica, partituras em prosa à maneira das operações Fluxus, citações em bruto, simbologias ocultistas, melopeias e até uma playlist para rádio, sempre em explosões de sentido. Na segunda parte do livro estão entrevistas com alguns protagonistas desses anos de pasmo, paranóia e incerteza, os de 2020 a 2023. Depressa se percebe que o alargamento perspectivo não coincide com as características estipuladas para a “não-ficção”: o que aqui o leitor encontra é impossível de categorizar, de catalogar, de colocar numa prateleira. Este é um livro insurgente, de um autor desconformado, alinhado com a ideia de Paul B. Preciado de que estamos em pleno curso de uma mutação planetária: a do começo do fim do realismo capitalista, uma passagem para outra epistemologia terrestre, uma nova oportunidade para a «hipótese revolução».

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Nascido na Ilha de Moçambique em 1961, Rui Eduardo Paes é uma referência no jornalismo cultural português. Com 38 anos de carreira, destacou-se na música, dança e arte intermedia. Autor de 10 livros, foi editor da revista jazz.pt e curador do ciclo Jazz no Parque. Reconhecido como um dos melhores jornalistas pelo professor Mário Mesquita, sua abordagem eclética o torna um crítico musical único em Portugal.